Fios de Kirschner e Pinos de Steinmann: A versatilidade clássica na Ortopedia Veterinária

Embora o mercado de ortopedia veterinária tenha evoluído significativamente nas últimas décadas, com a popularização de sistemas de fixação rígida como placas bloqueadas e parafusos de titânio, alguns instrumentais permanecem insubstituíveis.

É o caso dos Fios de Kirschner e Pinos de Steinmann. Eles representam a base da caixa ortopédica, oferecendo versatilidade para o cirurgião lidar desde fraturas complexas em pequenos animais até procedimentos auxiliares em grandes cirurgias.

Neste artigo, exploramos as características técnicas desses implantes, suas diferenças conceituais e por que a qualidade do aço e da ponta são cruciais para o sucesso do procedimento.

Kirschner vs. Steinmann: Qual a real diferença?

Essa é uma dúvida comum, já que visualmente ambos são hastes cilíndricas de metal. Em muitos catálogos, as medidas até se sobrepõem (ambos podem ser encontrados a partir de 1.0mm, por exemplo).

Historicamente desenvolvidos por cirurgiões diferentes (Martin Kirschner e Fritz Steinmann), a distinção moderna na veterinária se dá muito mais pela indicação clínica e rigidez associada ao diâmetro do que pelo formato em si.

martin kirschner e fritz steinmann, desenvolveram, respectivamente, o Fio de Kirschner e Pino Steimann
Martin Kirschner (esquerda) e Fritz Steinmann (direita), responsáveis pelo desenvolvimento do Fio de Kirschner e do Pino Steinmann, respectivamente.

  • Fios de Kirschner (K-Wires): Geralmente compreendem os diâmetros menores e mais flexíveis. São associados à fixação de fragmentos menores, estabilização temporária ou como componentes de fixadores externos circulares. A sua flexibilidade relativa é uma característica desejada em certas montagens.
  • Pinos de Steinmann: Costumam referir-se aos diâmetros maiores e mais robustos (frequentemente avançando para 4.0mm ou mais). Devido à sua maior resistência às forças de carga, são frequentemente a escolha para preencher o canal medular em ossos longos, atuando como o pilar central da estabilização.

Independentemente da nomenclatura, o fator decisivo para o cirurgião é o diâmetro e a resistência do implante à flexão.

O Paralelo: Medicina Humana vs. Medicina Veterinária

O uso desses implantes ilustra bem como a medicina veterinária adapta tecnologias para sua realidade.

Na Medicina Humana, o uso de Fios de Kirschner é frequentemente focado em fixações provisórias (para manter o osso no lugar antes de colocar uma placa) ou para fraturas em extremidades (mãos, pés e dedos), onde a carga de peso é menor.

Já na Medicina Veterinária, devido à imensa variação de tamanho dos pacientes — pense na diferença anatômica entre um gato e um cão de porte gigante — esses fios e pinos assumem protagonismo. Em pacientes muito pequenos (toys) ou gatos, um Fio de Kirschner muitas vezes atua como o implante definitivo, funcionando com eficácia comparável a hastes intramedulares que seriam usadas em humanos, dada a proporcionalidade do paciente.

A Importância da Ponta Trifacetada

A geometria da ponta do pino ou fio é um detalhe técnico que faz toda a diferença no momento da introdução no osso.

Na Ortovet, trabalhamos com a ponta Trifacetada. Como o nome sugere, ela possui três faces de corte afiadas.

  • Melhor penetração: Facilita a entrada no córtex ósseo, exigindo menos força física do cirurgião e menos torque da furadeira.
  • Menor atrito térmico: Pontas mal afiadas ou rombas geram atrito excessivo, o que pode causar necrose térmica ao redor do implante, prejudicando a estabilidade futura (afrouxamento do pino).

Aplicações Comuns na Rotina Cirúrgica

O uso específico deve sempre ser avaliado pelo cirurgião veterinário com base no caso clínico e radiografias.

De forma geral, a literatura veterinária descreve o uso destes implantes em três cenários principais:

  1. Fixação Intramedular: O pino é inserido no canal medular de ossos longos (como fêmur, tíbia ou úmero) para promover o alinhamento axial e resistir às forças de flexão.
  2. Banda de Tensão: Uma técnica clássica onde o Fio de Kirschner e um fio de cerclagem (arame) são usados em conjunto para transformar forças de tração em forças de compressão, muito comum em fraturas de avulsão.
  3. Fixação Externa: Tanto os fios quanto os pinos são utilizados como elementos de transfixação (atravessam o osso e a pele) e são conectados a barras externas, criando uma estrutura "em gaiola" ou linear para estabilizar a fratura por fora.

Qualidade do Material: Aço ASTM F-138

Por ficarem em contato direto com o organismo, e muitas vezes de forma permanente, é imperativo que esses implantes sejam fabricados em Aço Inoxidável grau de implante (ASTM F-138). Essa norma garante a biocompatibilidade e a resistência à corrosão no ambiente fisiológico.

Na Ortovet, você encontra uma linha completa de Fios de Kirschner e Pinos de Steinmann, com variações de diâmetro milimétricas para atender desde o paciente neonato até o grande porte.


Referências Bibliográficas:

  • Brinker, Piermattei, and Flo's Handbook of Small Animal Orthopedics and Fracture Repair. 5th Edition. Saunders, 2016.
  • Fossum, T. W. Small Animal Surgery. 5th Edition. Elsevier, 2018.
  • Slatter, D. Textbook of Small Animal Surgery. 3rd Edition. Saunders, 2002.